FELIZES

 

 

 

 

 

Ricardo Reis 

 

 

 

 

 

Felizes, cujos corpos sob as árvores

Jazem na úmida terra,

Que nunca mais sofrem o sol, ou sabem

Das doenças da lua.

 

Verta Eolo a caverna inteira sobre

O orbe esfarrapado,

Lance Netuno, em cheias mãos, ao alto

As ondas estoirando.

 

Tudo lhe é nada, e o próprio pegureiro

Que passa, finda a tarde,

Sob a árvore onde jaz quem foi a sombra

Imperfeita de um deus,

 

Não sabe que os seus passos vão cobrindo

O que podia ser,

Se a vida fosse sempre vida, a glória

De uma beleza eterna.

 

 

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